O Regresso dos Palestinos
Israel Shamir
Por
que apoio o Regresso dos Palestinos.
A
Palestina não é um objecto morto, mas sim um país vivo. A
Palestina é o que os Palestinos recriam no tempo real, do
mesmo modo que a França é o que os Franceses criam e recriam
todos os dias. É uma enorme confusão do espírito supor que
se pode amar a França e aborrecer os Franceses, e que a
França pudesse existir sem os Franceses. Apenas os turistas
tolos dos países ricos, importunados pelos mendigos,
preferem ficar isolados em hotéis elegantes, onde podem
gozar o país sem se encontrarem com os nativos. Amar um país
e afastar os seus habitantes é uma espécie de romance que
pode agradar apenas aos que têm uma paixão pela necrofilia.
O
falecido pensador russo Lev Gumilev descreveu um país como
uma simbiose de povo e paisagem. A Palestina e os Palestinos
são inseparáveis, os camponeses e os seus olivais e as
fontes de água e as montanhas e as cúpulas dos ancestrais
sepulcros no alto das colinas precisam uns dos outros, pois
cresceram como complementos recíprocos.
Os
Palestinos não são um povo mesquinho e obscuro. Eles criaram
a Estrela de Ghassul
[local arqueológico do vale do Jordão, trad.]
escreveram a Bíblia, construíram os templos de Jerusalém e
Garizim, [Monte
Jarizim, na Samaria, onde ainda existem as ruínas de um
templo, trad.] os palácios
de Jericó e Samaria, as igrejas do Santo Sepulcro e da
Natividade, as mesquitas de Haram ash-Sharif, os portos de
Cesareia e de Acre, os castelos de Monfort e Belvoir.
Andaram com Jesus, derrotaram Napoleão e lutaram
valentemente em Karameh
[batalha travada em 1968 em território jordano, entre
israelitas e palestinos, tendo estes últimos proclamado
vitória, trad.]. Nas suas veias correm os sangues
dos guerreiros egeus, de Bene Israel
[hebr. “filhos de Israel”,
em árabe “abná ...,trad.,repare-se na semelhança.],
dos heróis de David, dos primeiros Apóstolos de Cristo e
Companheiros do Profeta, dos Cavaleiros árabes, dos Cruzados
normandos e dos Chefes turcos, numa composição única. A sua
centelha ainda não se apagou: a poesia de Mahmud Daruish,
[recentemente ( 2008)
falecido, grande poeta palestino, trad.] a
sabedoria de Eduard Said,
[Eduard Sa’íd, professor
universitário, escritor (“On Orientalism”, traduzido para 26
línguas), anti-sionista, trad.,] o perfeito
azeite, o fervor das orações e a coragem indómita provam-no.
Sem
os Palestinos, a Palestina morre. Os rios levam água
envenenada, as fontes secam, os montes e vales
desfiguram-se, os campos são trabalhados por chineses
importados, enquanto seus filhos são aprisionados em guetos.
A ideia de um estado judaico separado ruiu. Durante os
últimos dez anos, as políticas loucas do governo israelita
importaram mais de um milhão de trabalhadores romenos,
russos, ucranianos, tailandeses e africanos. Alguns deles
reclamam-se com ascendência judaica: tribos peruanas,
indianos de Assam e inúmeros refugiados da União Soviética
imigraram para Israel. Agora a Agência Judaica planeia
importar uma tribo Lembda da África do Sul, a fim de
assegurar o carácter judaico do estado. Paradoxalmente,
aqueles que ainda mantêm parte das tradições judaicas estão
isolados no estado judaico, como é o caso do falecido Dr.
Yeshayahu Leibovitch, ou presos como o Rabi marroquino Arie
Der’i.
A
fantasia da reunião judaica colidiu com a realidade. Devemos
acabar com a ilusão. Regressem os filhos e as filhas da
Palestina e reconstruam Suba e Kakun, Jaffa e Acre. Em vez
de consagrarmos a Linha Verde, apaguemo-la e vivamos juntos,
os filhos da Palestina, dos primeiros colonos, dos
marroquinos e dos russos.
Devemos viver num só estado, não somente devido ao flagrante
falhanço de Oslo. A própria ideia de separação está errada.
Podemos seguir o exemplo da Nova Zelândia, onde os
imigrantes europeus vivem com os nativos Maori, o exemplo da
África do Sul de Mandela, o exemplo das Caraíbas, onde os
filhos dos colonos espanhóis, dos escravos africanos e dos
nativos ameríndios se amalgamaram na linda nova raça.
Rasguemos a nossa Declaração de falsa Independência e
escrevamos outra de amor e mútua dependência.